terça-feira, 25 de janeiro de 2011

MINHA ALDEIA

aqui
a gente estuda
e não fica pedante

a gente trabalha
e não enriquece

a gente ajoelha
e nunca reza

aqui
a gente tenta ser feliz

[2007]

POP

persegui você
por vários clichês
às bocas pequenas
lenços de papel
capas de best-seller
cartões de natal
temas de novela
canções populares
peles tatuadas
cartazes de filme
vinhetas de rádio
cadernos de escola
cantadas de bar
mas só encontrei
no fim de um poema
de versos vulgares
que fiz pra você

meu jeito natural
de ser feliz

[2008]

PARA KÁTIA ROSE PINHO E NINGUÉM MAIS

ao meu paladar
massas de gás não sabem
bem ou mal

a monotonia
secou-me os olhos
e os arranquei

órfão de sol
vivo um inverno
de sombras mudas

matei deuses
não fito firmamentos
buscando astros

ação tópica
sempre requerem
minhas feridas

dores não esperam
em filas
nem batem em portas

o primeiro verme
roía-me um pedaço
e já ressoava
o eco do réquiem
quando surtiram efeito
as sessões terapêuticas

poesias chegam
via sedex
mas não assino
quiser falar comigo
alugue outdoor
na avenida principal

[2008]


Poema em resposta a este poema de Kátia Rose Pinho:


PARA O EDMILSON E QUEM MAIS CHEGAR

Sentir o gosto de nuvem
Ter olhos gosmentos de vida
Escutar latejamentos de sombras
Ver espantamentos de estrelas

Requisitos básicos
Para desentulhar versos
Sem carecer notas de rodapé

SONATA SECRETA

a melodia apreciada
não sai do violino
a fricção da crina do arco nas cordas
tecendo a sequência de notas
nada tem a ver com ela

mas da mão que segura o arco
dos dedos que pontuam as cordas
do queixo que ampara o instrumento
do olhar que percorre a partitura

saberá a musicista
que emudece o violino
e exala esse som secreto
chamado sedução

[2007]